quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mimo

Contarei pra ninar
Vou zelar teu amor
Cantarei pra mimar
Ganhar tua manhã

Comporei meu olhar
Refletindo teus tons
Calarei pra guardar
Sons de pleno momento

Feliz pois cada cheiro traz
A paz em toda noite que chega

Placebo

Do vício entorpeço novos prismas
Dos novos prismas um novo oásis
Do oásis mais uma miragem
Da miragem a vontade do engano

Do engano um contentamento torpe
De tão torpe mais vícios e prismas
De vícios e prismas: o oásis não é mais que areia
O grão que se torna pão: apenas para aquele que se farta

De vícios correntes, nós e teia
Coração: Portão de Tróia; prenda parta
Imagens tortas, vívidas miragens
Sede d'água que nunca existiu na areia

Paixão, Saara, Celsius derme queima
Vicia o ser e a pena do poeta
Sangue viciado: corre quente livre; infla a veia...
Crível latejante dor: Placebo; barba falsa de profeta

Déjà Vu

Desritmado o olhar voou
Flertado, flechado à quem não negou
Já concebido o sorriso ecoou
Foi e voltou mas confessou

Que pressentiu um mistério no ar
E os dois valsando sem nem "se tocar"
Num movimento um desejo à rodar
Sem falar e tudo à par

Do encanto, fascinação!
Fruto-do-querer-ser-feliz
Mas com medo de acreditar
Só pra duvidar da paixão

Feito miragem o sonho acabou
Sem ter coragem um deles partiu
O outro em sua tristeza sorriu
Num "déjá vu" se confirmou

Viver e dançar envolto à emoções
Redescobrir-se num breve sofrer
Mesmo que longa, tal noite irá
Amanhecer, recordações

Pau-de-arara

Sinal da cruz
Pé forte no chão
Da Mãe a luz
Do Pai proteção

Vai forasteiro
Levado no vento
Vai seresteiro
Pra matar o tempo

Seca no campo
Fruto temporão
Livre no canto
Raso na imensidão

Sede no sangue
De rodar pião
Pisar no mangue
Ver brotar o pão

Selva no vaso
Chuva no sertão
Do passado o acaso
Do futuro intenção

Tanta poeira
Segue a condução
És pau-de-arara
Nasceu nessa condição

Da cruz a luz
No chão proteção
No sangue o mangue
O pião, o pão

No vento-tempo
Do tempo-vento

Traça seu rastro
Seu lema: vida
No olhar vasto
Da despedida

Todos os sonhos
Numa bagagem
Pro horizonte
Dessa viagem

Tempo

A quanto tempo
Preciso de tempo pra pensar
Em quanto tempo
Se descobre um tempo de amar?

Ontem o tempo voou
Hoje pousou e parou
Só agora, no tempo notei
E perdido novamente fiquei

Ao meu ouvido, soprou o tempo
Uma canção que ele mesmo criou
Frio, me aquecendo com o vento
Ah! Quanto tempo... só ele me tocou

O céu se fechou, enfim o temporal
Encharcou a noção do que é sentimento
Em um breve momento nunca existiu o mal
Saberei se é real com o tempo

T.I.M.E.L (Teoria Infundada da Mente Livre)

NÓS

Hoje fechei os olhos, depois abri pra tentar ver de onde vinha o vento que soprava...


EU

Fechei de novo e quase dei risada
Me preparei, pois vi o vento voltando
Lembrei de quando era mais menino
Como tudo era simples e bonito
De como olhava pro mundo
Com olhos de quem estava descobrindo o próprio
Sem julgar, sem concluir
Às vezes até sem pensar
Lembro dos dias que passavam preenchidos
De pensamentos, impressões, de sonhos
E de como imaginava, eu, adulto
Homem sem vergonha, moleque medroso
E carente...
Vou parar senão fico até amanhã...


VOCÊ

Sempre temi a saudade da minha juventude de hoje
Pois tenho saudade da minha infância de ontem
O ontem foi a descoberta e as transformações
As angústias do amanhã fazem efeito hoje...
Não sei se as confusões vão acabar
Só sei que às vezes com a necessidade os problemas começam...
Fugiu da cabeça...
Pensar outra coisa... péraê...
Sabe o que penso? Pode escrever aí!
Se alguém mais olha pro céu pra apreciar sua beleza ao invés, pra ver se vai chover!
Vou viajar velho, hein?!
Será que alguém olha pra lua pra ver sua beleza
Ou se só pra ver se é cheia, minguante, crescente ou nova?
Só pra fazer simpatia...
Acho que ta bom né?
Hum? O quê?
Quê cê tá aprontando?

Renda

E por quê renda?
Se rendesse algo, mas...
Que minha “renda” não te prenda

Pois não há por quê
Sem um “quê” de “o quê?”
Será mesmo? (...)

Reticente coração
Correndo da razão
O quê e porque falar?

Talvez, quem sabe
Acenda e imenda
Minha imaginação

Quitanda

"E atenção! Todo coração que se ache são:
Grande promoção de descaso a paixão!
Queima de saldos positivos e negativos!
Temos tudo o que convém:
Todos os tamanhos de moral com opções variadas de caráter!
Aceitamos como forma de pagamento:
Respeito e sinceridade!
Parcelamos em até doze momentos de felicidade!
Sem necessidade de avalista!
Basta ter amor próprio e crédito emocional!
Não perca!
Esta promoção pode se prolongar eternamente!
Desde que todo ser venha a ser humano...
Boas compras!!!"

Pudim-de-Cachaça

Meu amigo olhe bem à sua volta
Não me diga que não importa
Como está a situação
A essa altura o mundo já deu tanta volta
Quando vem à sua porta
Um tremendo beberrão

Ele estava sujo e maltrapilho
Na esperança de um pedaço
Da tua compreensão
Pois desta pátria também é filho
Mas não é feito de aço
Só precisa de um empurrão

E como já não vê na vida graça
Ele encontra na cachaça
O que julga a solução
Cambaleando canta no meio da praça
Dizendo que tem muita raça
E ainda vai ser um campeão...

Mas, chorando ele fica de joelhos
Já recebeu tantos conselhos
Que pra ele foi em vão
Só queria menos papo e mais ação
Ser tratado com respeito
Pois também é cidadão!

Poeta-Criador

Nada como a poesia
Quando estou aos prantos
Feito a maresia
Sobre a relva como um manto

Às vezes trás a nostalgia
De antigos desencontros
Hora trás a alegria
Inspirando novos contos

Sem ela, música não haveria
Nem ao menos escritores
Quem nos encorajaria
A vivermos grandes amores?

Onde há poesia
Pode haver um sentimento
Talvez haja fantasia
Ou só coisa de momento

Ela é como um mar profundo
De uma azul estonteante
Grandiosa feito um mundo
De beleza impressionante

E de mesma equivalência
Está o poeta-criador
Com os olhos da inocência
De criança sem pudor

Momento Leso

O sujeito quando vem pro interior acha que é poeta: fica sensível. Vitória-Régia em rio é um prato cheio. Se tiver um sapo em cima então...
Olha pro céu: "Nooooossa, quanta estreeeeela meu Deus!!!” Acha a pracinha do coreto um quadro!
Fica louco pra andar a cavalo, aprende a falar errado, tira sarro de todo mundo e se acha mais inteligente do que eu que observo tudo isso... Talvez! Quem sabe?

Imaturo

Correndo pra alcançar o pensamento
Que se mostra pro momento inteligente
Que surgiu depois de um envolvimento
De maneira tão real e negligente

Buscando encontrar contentamento
Na dose alcoolizada da bebida
Pensei sentir, sem ter constrangimento
Certeza da pergunta respondida

Querendo desviar da confusão
Que a fumaça do cigarro me provoca
Me iludindo, disfarçada de ilusão de razão
Desse mundo desigual que ainda me choca

Prefiro, tento não me acomodar
Crescendo e aprendendo a todo instante
Não me privando de experimentar
Inovações plenas e constantes

Desejo de saber na consciência
Aquilo que a emoção não ensinou
Agora só resta paciência
E seguir, pois minha vida já mudou

Dimensão

Som: de homem “são”
Dom: verdade do coração
Brilho nessa dimensão
Desejo de evolução
Clareza de visão
Verdade é imensidão
Eva: nada sem Adão

O Fruto: eis a questão!
Maçã: a primeira ração
O desejo: a primeira intenção
O pecado: muito mais que a ação
O futuro: algo de extinção
Alvo de precisão
Reflexo da reflexão

Um níquel: colisão
O chumbo em palavra, sim ou não?
Podridão estacionada frente à extinção
Sentido extra-sensorial na palma da minha mão
O elo dos sexos: explosão
E no fim de uma “relação”
O começo de uma bênção...

*com Alessandro Sá

Arte

No encarte
Em marte
Ou qualquer parte
Para que todo mundo se farte

Amar é fazer arte
A mais bela...
Pois só com os defeitos
Admiramos a pureza
De cada virtude

E assim, nessas condições
Impostas e não propostas
Somos os primeiros a “fazer arte”
Ao amar-te
Arte!